#ÀSextaemCollants - O Rei vai em Collants

O pano subiu 

O rei esta nu - grita o povo 

Deitado neste palco de tábuas velhas aqui estou eu 

Uma espécie de rei 

Coroa que me define ao primeiro olhar 

Trazem-me um pequeno lençol de cetim 

Escondi-me da cinta para baixo 

Fiz uma espécie de saia que me desenhei\moldei em segundos 

Deixo-me estar ali 

Parado 

Observado 

Avaliado pelo meu público a quem chamo de meu povo 

Que papel este o meu nesta cena 

Gosto de me pôr à prova à frente desta gente toda 

Sim, gosto mesmo

Uma cena de outro mundo 

Ou talvez só uma cena original e genuína 

Aqui estou eu 

Rei soberano e todo poderoso 

Collants de vidro tão finas que dá medo dar um passo com receio que se partam 

Delicadamente 

Passo a passo sigo todas as regras 

Deixo o lençol de cetim sair de cena como que por magia 

Curta e transparente a palavra que me veste agora 

Muito mais eu agora 

Muito mais confiante 

Os meus sentimentos navegam do lado de fora 

Peregrinam em minha camuflagem frágil aos vossos olhos atentos 

Pouso em várias poses 

Detalhe por detalhe 

Faz parte não deixar nada para  trás

Frente 

Trás

Esquerda 

Direita, perfil

Dentro de uma espera 

Amor incondicional a um povo 

Um público atento o desta sexta-feira

Palavra 

Emoção 

Sensações aos trambolhões 

Faço com que cada detalhe seja uma suave definição 

Rei 

Eu 

Só eu e os meus collants vidro 

Transparentes para não esconder o meu lado de dentro 

Exposto perante o meu povo 

Vêem-me nu os das filas da frente 

Estou transparente apenas 

Sincero e verdadeiro 

Sem máscaras 

Sem falsos moralismos do nosso século em que vivemos 

Curiosos de primeira fila 

Sou o vosso Rei deste palco só vosso a que chamo vida 

Solto a minha voz para que me ouçam no fundo da sala

Levanto-me de pé bem alto 

Suspense no próximo passo 

Mostro-me assim de frente para vocês 

Uma espécie de Jesus Cristo na cruz 

Uma espécie de bailarina descalça 

O rei vai nu... O rei está nu... 

Grita o povo 

Exposto 

Collants para cima 

Puxo-as tanto que as faço chegar aos ombros 

Lá vou eu 

Entro numa outra cena 

Quero sentir o vosso calor 

O vosso olhar 

O contacto dos mais cépticos 

Piropos saudáveis 

Sorrio e provoco quando gozam 

Diz mais uma vez 

Só para que todos saibam o que dizes 

Sim sou um Rei 

Apenas um Rei 

Um Rei sem segredos 

Um Rei que veste o que é

João Pedro

Por detrás destes collants que trago vestidos.

Só eu sei o que sinto.

Só eu sei o que sou.